Eu moro perto do frio,
No sapé de uma colina
Aonde o campo termina
E começa uns 'caidão'
Meus amigos no meu rancho
Eu recebo a toda hora
E as mágoas ficam de fora
Da cancela do estradão
No lado sul da estância,
Num caponete fechado,
A mutuca tira o gado
No veranico de maio
É onde ronca o bugio
E gorjeia o mem-te-vi
E onde levo a taquari
Pra correr co' leão-báio.
É asssim que passo o tempo
Quando não tô em fandango
No dia-a-dia lidando
Da mangueira aos cafundós
Aqui no potreiro velho,
No ventre da casa branca,
Se mantém a mesma estampa
E os costumes dos avós.
Da janela centenária
De soleira portuguesa
Eu bombeio a beleza
Da tardinha que se veio
Vejo a sombra de um carancho
No repecho da coxilha
E a boiada que pontilha
Na procura do rodeio
Cai a noite em negro manto,
Se reúne a peonada
Pra contar suas queradas
No aconchego do galpão
Se fala de tudo um pouco,
Um índio chora de amor,
Outro ouviu o 'gritador',
O fantasma do rincão.